O áudio de uma mulher que diz ter sido candidata a vereadora da cidade de Oliveira dos Brejinhos, no centro-oeste baiano, viralizou nas redes sociais: ela disse ter comprado 1.090 votos, porém só recebeu 27 e agora quer o dinheiro de volta.
A suposta candidata seria Geni do Carvão (PSD), mas ela não atendeu a imprensa nem para se justificar, nem para negar o ocorrido.
“Gente, usa de bom senso, dói na consciência de vocês. Vocês pegaram o meu dinheiro e não votou [sic] em mim. Devolva o meu dinheiro, por favor, vou passar meu Pix aqui. Quem tiver Deus no coração que devolva meu dinheiro”, diz a mulher no áudio, supostamente enviado a um grupo do aplicativo.
Ela ainda diz ser “de Jesus” e ameaça quem não devolver os valores. “Uma bandida que pegou meu dinheiro já pegou fogo na casa dela ontem. Ela ligando pedindo ajuda, eu falei, ‘vai para o inferno desgraçada, você nem para ter morrido dentro dela, bandida’. Graças a Deus, Deus já tá castigando. Quem mexer comigo, minha filha, mexeu com Jesus. Porque eu sou 100% Jesus”, afirma.
“Joguei praga e peço a Deus agorinha, quem pegou meu dinheiro e não votou em mim é pra sofrer acidente, pegar fogo na casa, vai queimar no fogo do inferno quando morrer”, ameaça.
A mulher também não poupa crítica em relação aos moradores da cidade, de modo geral. “Pensa num lugar desgraçado, de gente bandida, ladrão, chama-se Oliveira dos Brejinhos e regiões circunvizinhas”, reclamou.
Segundo o site do Tribunal Superior Eleitoral, ela informou ter recebido R$ 10 mil do fundo eleitoral do PSD, gastando metade do valor em aluguel de veículo e a outra com uma cabo eleitoral. Além do crime de compra de votos, ela pode sofrer sanções, pois diz ter gastado mais de R$ 100 mil só na compra de votos.
“Eu gastei cento e poucos mil, comprei 1.090 votos. Falei, sempre tem um ladrão, bandido, falso, safado, pode me falsear, me roubar, mas eu calculei que tinha uns 900 votos. Você acredita que só tive 27 votos?”, comenta.
Além da compra ilegal, a suposta candidata alega também ter gastado ajudando as pessoas no período eleitoral. “Olha, o que eu tenho ajudado gente. Era óculos, era dentadura, era cesta básica, ajudei de todas as formas para acontecer o que aconteceu”, conta.
“Tá na hora de corrigir seus erros, devolva meu dinheiro, por favor. Deixa eu passar o meu Pix, quem tiver Deus no coração, quem for de Deus, que manda meu dinheiro. Quem for diabólico, do demônio, é que vai pagar no fogo do inferno o que fez comigo”, segue ameaçando.
A Folha informou que, além de tentar entrar em contato com a candidata, também procurou integrantes do PSD municipal e informou o teor da reportagem, mas não houve resposta. Os 11 vereadores eleitos na cidade tiveram de 481 a 965 votos.
A cota do fundo eleitoral foi repassada para a candidata por decisão do deputado federal Sérgio Brito (PSD-BA). Ele disse conhecer Geni, mas afirmou que não sabia da história ou da existência dos áudios até ser procurado pela Folha. Ele afirmou que fez repasses padrão de R$ 10 mil para diversas candidatas do PSD nas cidades em que é bem votado.
“Lá em Oliveira dos Brejinhos foram três mulheres, se eu não me engano. Aí saí distribuindo, porque é cota, né, obrigatória. Eu não tinha recurso para os homens, aí eu falei, ‘eu tenho que fazer alguma coisa aqui para ajudar, dentro da lei, essas mulheres’. O que elas fazem com o recurso, eu não tenho acesso nenhum”, afirmou.
Presidente do partido na Bahia, o senador Otto Alencar enviou o caso para a Comissão de Ética, que abriu processo administrativo que pode resultar na desfiliação da ex-candidata. “A lei deve punir quem errou. Vou entrar com processo de afastamento dela do partido caso fique comprovada essa situação. Claro, dando o direito ao amplo contraditório”, afirmou o senador.
Informe Baiano