Um simulado de emergência em uma barragem de rejeitos da Jacobina
Mineração e Comércio (JMC), controlada pela Multinacional Yamana Gold,
aconteceu nesta sexta-feira (22), na cidade de Jacobina, Piemonte da
Chapada Diamantina. A ação foi acompanhada pelo Ministério Público da
Bahia (MP-BA), através da Promotoria de Justiça especializada em meio
ambiente de âmbito regional, representada pelo promotor Pablo Almeida.
Cerca de 400 pessoas, entre moradores do entorno da empresa e
funcionários, participaram ativamente da simulação de evacuação. Após o
acionamento das sirenes, os participantes se deslocaram das casas e
postos de trabalho até nove pontos de encontro sinalizados previamente,
por rotas também sinalizadas, onde não haveria risco de atingimento por
onda decorrente de eventual rompimento da barragem.
Ao BNews, o promotor Pablo Almeida contou que a experiência foi
positiva, pois na Zona de Auto-Salvamento (ZAS), área inundável, os
moradores e funcionários precisam ser treinados a cumprir protocolos de
segurança, já que nestes locais não haveria tempo suficiente para
atuação de equipes de resgate.
“A Zona de Auto-Salvamento em Jacobina se estende por 10 km após a
barragem, sendo que nos 7 km iniciais, setor 1, existe um risco maior
para vidas humanas, pois a onda de lama pode atingir de 20 a 10 km/h de
velocidade e mais de 60 cm de altura”, explica.
O promotor avalia que melhorias devem ser feitas tanto por autoridades
públicas, quanto pela mineradora. “A ausência de um Plano de
Contingência Municipal para acidentes com barragens na Defesa Civil de
Jacobina fragiliza o socorro às vítimas e ao meio ambiente. Nesse
sentido, o MP recomenda à Defesa Civil Municipal a necessidade urgente
de aprovação de um plano de contingência público, atualmente
inexistente”.
Outro alerta sinalizado pelo promotor foi a falta de uma unidade do
Corpo de Bombeiros no município. “Projeta um cenário de demora no
atendimento a eventual rompimento da barragem, que terá que se deslocar,
na hipótese de acidente, 3 a 4 horas até chegar à cidade. Assim, o
trabalho de resgate sofre prejuízos incalculáveis. Ademais, a própria
estrutura de saúde é precária, sendo que somente participaram do
simulado duas ambulâncias públicas, que ainda assim chegaram atrasadas
ao evento”.
O representante do MP-BA argumenta que nos setores 1 e 2 da Zona de
auto-salvamento o contingente populacional é de mais de 2.700 pessoas, e
duas ambulâncias públicas e uma da empresa seriam insuficientes para
eventual atendimento. “O Estado da Bahia não disponibilizou aeronaves
para o simulado, bem como existe a informação de que o Corpo de
Bombeiros na Bahia não tem helicópteros, muito menos a Secretaria de
Meio Ambiente ou o Inema [Instituto Do Meio Ambiente E Recursos
Hídricos]”, detalha.
De acordo com o promotor, é urgente a revisão e atualização do Plano de
Ação de Emergência da Barragem de Mineração, elaborado em outubro de
2016, o qual está desatualizado. “O plano precisa ser revisado e
atualizado por estar prenhe de informações desatualizadas, bem como com
menções a normas de segurança já revogados, como as portarias 416 e 526,
que já não são as aplicáveis. A empresa deveria ter revisado e
atualizado o plano”, alerta.
Segundo Almeida, os pontos de encontro instalados pela empresa e as
placas respectivas estão em desacordo com a norma, a Portaria 187, de 26
de outubro de 2016, do Ministério da Integração Nacional. “Não
informações relevantes para o salvamento, como telefones de órgãos de
emergência e informações básicas de como proceder na área, nem existiam
itens de emergência como lanternas e sinalizadores”, revela.
O promotor acrescenta que, apesar do simulado ter ocorrido durante o
dia, um acidente pode ocorrer durante a noite, o que revela também a
necessidade de iluminação das rotas de fuga e pontos de encontro, o que
não se verificou em campo. Por fim, Almeida acrescenta que os técnicos
do MP-BA relataram que as sirenes móveis instaladas para o simulado
demoraram para ser ouvidas.
Na oportunidade, Almeida lamentou a ausência de representantes da
Agência Nacional de Mineração (ANM) tanto no simulado quanto nos
treinamentos realizados anteriormente. “Demonstra uma ausência de
preocupação da ANM quanto a atividade preventiva e de salvamento”,
pontua.
Ao site, a mineradora informou que um relatório com o balanço do
simulado ficará pronto em aproximadamente 40 dias, quando a empresa
analisara o que precisará ser alterado em seu Plano de Ação de
Emergência.
Este é o primeiro simulado de rompimento de barragem de rejeitos de
mineração da Bahia e também do Nordeste. Segundo a empresa, a ação
despertou o interesse de 43 órgãos e empresas para treinamento prévio ao
exercício. Compareceram ao simulado e a uma palestra ministrada na
quinta-feira (21), membros da Defesa Civil de Alagoas, Sergipe, Ceará e
de outros 10 Estados, além de representantes da Universidade Federal da
Bahia, da Ferbasa, da Petrobras, e das empresas de mineração Caraíva,
LeaGold, Vanádio, Mirabela, Nexa Resources e Fazenda Brasileiro.
Fonte: BNews