O número de jornalistas assassinados em retaliação a seu trabalho praticamente dobrou em 2018, ano em que uma redação de jornal nos Estados Unidos foi atacada e em que um repórter saudita morto foi um dos escolhidos como Pessoa do Ano pela revista Time. Relatório do CPJ (Comitê para a Proteção dos Jornalistas) divulgado nesta quarta-feira (19) contabilizou 34 jornalistas assassinados neste ano, em comparação com 18 em 2017. É o maior patamar desde 2015, quando foram confirmados os homicídios de 51.
Ao todo, 53 jornalistas morreram neste ano, o primeiro aumento depois de dois anos de queda. É também o maior nível desde 2015 (73). No Brasil, dois jornalistas aparecem na lista dos mortos neste ano. Jairo Sousa, da Rádio Pérola, foi assassinado em junho em Bragança, Pará. Ele fazia reportagens sobre corrupção, assassinatos e tráfico de drogas. O suposto mandante do crime seria o vereador César Monteiro, segundo notícia publicada no site da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).
O outro brasileiro morto é Jefferson Pureza Lopes, da rádio Beira Rio FM, assassinado em Goiás em janeiro. Ele vinha sofrendo ameaças de morte e outras formas de intimidação antes de ser morto. Segundo o levantamento, realizado de 1º de janeiro até a última sexta (14), o Afeganistão foi o país mais letal para jornalistas em 2018: foram 13 mortos, sendo dez assassinados. É um salto, considerando que em 2017 um total de quatro morreram no país, todos eles por cobertura arriscada (como protestos ou ações que se tornam violentas).
O país é figurinha recorrente no índice de impunidade elaborado pelo CPJ, por causa da facilidade com que os acusados por homicídio escapam de qualquer penalidade. O CPJ diz que os 13 mortos neste ano foram o maior número registrado no país desde que o comitê começou a monitorar os episódios. Superam, por exemplo, as cifras de 2001, quando os Estados Unidos atacaram o Afeganistão e nove jornalistas morreram.
Recentemente, os extremistas têm adotado a tática de lançar fazer ataques a bomba no país, seguidos por explosões que têm como objetivo matar jornalistas e outros que são os primeiros a chegar nos locais dos atentados. Em um desses atos, em 30 de abril deste ano, um homem-bomba do Estado Islâmico se disfarçou de jornalista e detonou explosivos que carregava no meio de um grupo de repórteres que correu para a cena do ataque. Nove morreram.
O CPJ lembra ainda o caso do saudita Jamal Khashoggi, colunista do jornal The Washington Post assassinado no consulado da Arábia Saudita em Istambul em outubro por agentes do reino árabe.
Khashoggi era crítico do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, acusado pela CIA (agência central de inteligência americana) de ordenar o assassinato do repórter. O CPJ critica o posicionamento do presidente Donald Trump, que deu declarações dizendo que "talvez [Salman] tenha, talvez não tenha" ordenado a morte.
Ironicamente, lembra o comitê, a voz mais crítica no caso tem sido a do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, "cujo governo efetivamente encerrou a mídia independente e está prendendo mais jornalistas do que qualquer outro ao redor do mundo pelo terceiro ano seguido."
Na semana passada, Khashoggi foi um dos escolhidos como Pessoa do Ano pela Time, parte de um grupo que recebeu o nome de "Os Guardiães e a guerra pela verdade".
Além dele, a Time também foi homenageou o jornal Capital Gazette, de Annapolis (a 50 km de Washington). Em junho, um atirador, Jarrod Ramos, abriu fogo na redação, matando quatro repórteres e um assistente de vendas. Os mortos são lembrados no relatório do CPJ. O relatório foi divulgado quase uma semana depois de outro levantamento do CPJ mostrar que o número de jornalistas presos por exercer sua atividade profissional chegou a 251, no terceiro ano seguido em que o número supera a marca de 250. Em 2016, foram 259 e no ano passado, 272, um recorde desde o início da contagem, no ano 2000.