O presidente Jair Bolsonaro ainda precisa fechar os últimos detalhes, que incluem as definições sobre o que fará com esses benefícios, e deve divulgar o texto na próxima quarta-feira. Até agora, os únicos pontos garantidos são a idade mínima, de 65 anos para homens e 62 para mulheres, tanto para iniciativa privada quanto para servidores públicos; e a transição, que deve durar 12 anos. Assim que a reforma for aprovada, a exigência será de 60/56 anos.
Uma das regras de transição prevê que, a cada ano, sejam acrescentados
seis meses no cálculo, em uma espécie de “escadinha”. Em 2021, a idade
mínima será de 61/57; em 2023, de 62/58; e assim por diante, até os
65/62, em 2031. A regra é mais dura do que a última versão proposta
durante o governo do então presidente Michel Temer, que partiria de
55/53, em 2018, e chegaria a 65/62 só 20 anos depois, em 2038.
Essa
é uma das três regras propostas pela equipe de Bolsonaro para suavizar o
fim da possibilidade de aposentadoria por tempo de contribuição, que
permite que homens deixem de trabalhar após 35 anos de serviço e
mulheres, após 30, sem idade mínima. O governo deve propor uma transição
específica para que a extinção dessa modalidade não prejudique muito
quem está às vésperas de completar o tempo de contribuição, porém não
tão perto da idade mínima exigida.
Se faltarem dois anos ou menos
para que a pessoa atinja os 35/30 de serviço quando a reforma for
aprovada, precisará pagar 50% de pedágio. Ou seja, quem estiver a um ano
de completar o tempo de contribuição exigido atualmente terá de
trabalhar por mais seis meses, mas não precisará completar a idade
mínima — que, se a reforma for aprovada ainda em 2019, e sem mudanças no
Congresso, será de 60/56.
Essa regra é bem específica: vale
apenas para homens que tiverem completado pelo menos 33 anos de
contribuição e mulheres que somarem 28 ou mais. Quem se encaixar na
exigência poderá escolher a aposentadoria por tempo de contribuição e se
livrar da idade mínima, caso prefira. Mas, nesse caso, além de pagar o
pedágio, precisará arcar com o fator previdenciário, que diminui o valor
do benefício. O fator leva em conta a idade, o tempo de contribuição e a
expectativa de vida. Se, depois de fazer as contas, o contribuinte
concluir que não vale a pena, pode avaliar as outras opções.
A
terceira alternativa é o sistema de pontos, que já existe atualmente,
mas passará a ser uma exigência para quem escolher essa transição. Nesse
caso, será possível se aposentar quando a soma da idade com o tempo de
contribuição chegar a, pelo menos, 86/96 (mulheres/homens), em 2019. A
pontuação aumentará todos os anos, até chegar a 100/105, em 2033. Depois
disso, a única possibilidade de aposentadoria será pela idade mínima,
que já será de 65/62 ao fim do período de transição.
Para quem se
aposenta hoje por idade (65/60) por não conseguir completar o tempo
exigido de contribuição — geralmente os mais pobres, que ficam mais
tempo na informalidade — haverá um “ajuste”: a regra para as mulheres
subirá dois anos assim que a reforma for aprovada. Passará direto para
os 65/62 anos.
Divergências
Especialistas acreditam que
apresentar três regras de transição pode confundir ainda mais as pessoas
e os parlamentares. O professor da Faculdade de Economia e
Administração da Universidade de São Paulo (USP) Hélio Zylberstajn, que
participou da elaboração de uma das propostas analisadas pela equipe
econômica, acredita que a melhor opção seria apresentar apenas uma
regra. “O ideal seria uma coisa mais simples. A nossa proposta tem uma
regra só, de aumentar um ano a cada dois anos, até chegar aos 65 para
homens e mulheres”, pontuou.
Zylberstajn também avalia que manter
uma distinção nas idades mínimas entre homens e mulheres faz diferença
“pelo conceito”, mas “prejudica pouco” do ponto de vista econômico. O
governo prevê economia de até R$ 1 trilhão com a reforma na próxima
década, mesmo com idades distintas.
A diferenciação também não é
defendida pela equipe econômica. Segundo o secretário especial de
Previdência e Trabalho, Rogério Marinho, a fixação da idade foi um
meio-termo entre o que queria o grupo liderado pelo ministro da
Economia, Paulo Guedes, e a ideia do presidente. Bolsonaro também
pretendia uma transição mais longa, mas é dado como certo por alguns
aliados que esse ponto será alterado pelos parlamentares.
Correio Braziliense